terça-feira, 16 de maio de 2017

Meu carrasco, bebo à tua glória

Na forca homens perderam a luz, na forca vidas voaram para longe dos corpos, moradas do ser. A Forca, engenho feio e cruel, onde vidas se soltam, vidas se perdem no etéreo ar que a envolve.
Quando os homens agem assim, dias de pesadelo alcançam os instantes das suas vidas. Movimentos pesados, súplicas entoadas, sonhos partidos como cacos no chão de um bar. Desgraçados aqueles que enforcam os outros, que lhes retiram a luz dos olhos, pesadelos terão pela noite dos tempos. Pesadelos terão enquanto o dia não nascer. Todavia, castigo tremendo, quando a manhã chegar serão salvos, sempre por aqueles que enforcaram, porque serão os sons que escutaram que os despertarão e, o que viram, a imagem da redenção.
Sorri agora pobre pecador, pois o teu riso será a imagem da tua glória quando o teu dia chegar. Eu mesmo te salvarei, castigo tremendo porque te perdoo. 


Benditos

Benditos os que vêem, num sorriso, a expressão de Deus… E benditos aqueles que amam o próximo como a si mesmos, porque serão esses os nossos melhores amigos e das maiores bênçãos da nossa vida.


Ser original

Em quase tudo a vida se repete, em quase tudo... sei que sim, que tudo, ou quase tudo, se repete. Sei também que a vida é assim, sei também que a morte é assim... se repetem. tudo, ou quase tudo, é assim. Quando sabemos que assim é, então sabemos quem somos, uma repetição do que fomos, ou do que no futuro seremos. Porque a originalidade é difícil de achar.


Diferente

Sei quem sou, e isso, pelo contrário, não me alegra, só me alimenta a tristeza. Isto porque quem sabe quem é chegou ao seu primeiro patamar. Um patamar que ainda demora a desaparecer debaixo de quem somos para então sermos tudo. Só saber quem somos não é bom, bom é ser tudo! Porque só sendo tudo seremos quem somos, em vez de apenas sabermos quem somos. Porque «saber» é bem diferente de «ser», é outro o verbo, é outro o teor da palavra. 


sexta-feira, 12 de maio de 2017

Da obra de sonhos e Deus

Assim que o rio desagua no mar, o sonho do rio foi realizado. Agora o rio existe numa dimensão superior, porque entrou em contacto com toda a imensidão do mar.Tal como um rio, o nosso propósito também é desaguar em Deus, para que possamos entrar em contacto com toda a imensidão do criador. Como escreveu Fernando Pessoa:
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.Deus quis que a terra fosse toda uma,Que o mar unisse, já não separasse.Sagrou-te, e foste desvendando a espuma”
Deus quer. Todavia, o homem nem sempre sonha o sensato e a obra pouco se nos desvenda.

A menina e a estrela

No céu, uma estrela sorria, era linda como o sol. O seu rosto era tão belo como a mais graciosa flor; já todos viram uma flor!? Sim, a estrela era tão bonita como a flor mais linda que vocês já viram. E, cá em baixo, a admirar a estrela lá no alto, estava uma menina tão bonita como qualquer uma de vós.
Esta menina sonhava em poder subir ao céu para cumprimentar a estrela e abraçá-la. Todavia, essa menina estava fechada num sítio feio, onde abusavam dela e onde a obrigavam a fazer coisas de que não gostava, tais como entrar com homens para um quarto e ser submetida aos mais cruéis rituais.
A menina tinha pena de si e do mundo, porque era no mundo que ela via outras meninas que, tal como ela, eram cruelmente abusadas. Mas a admirar a estrela lá no alto, a menina, sem saber bem porquê, sentia que algo podia mudar, para isso bastava olhar aquela estrela. Assim aconteceu, noite após noite, a menina contemplava a estrela mais bonita do céu, até que certa vez voou até ela e a abraçou.
O que aconteceu a seguir só Deus saberá, o certo é que, cá em baixo, o mundo continua a assistir a meninas que entram com homens para quartos, e nada mudou:
A estrela continua lá no alto e, cá em baixo, já uma nova menina olha o céu. Também ela sonha em poder abraçar aquela estrela, cujo rosto é tão belo como a mais graciosa flor.


O perfume das almas

O perfume das almas invade quem sou. Sem permissão entra em mim.
Cá dentro, o perfume passeia. Faz emergir um aroma que se escapa para o exterior.
Deixei de ser quem era e passei a fazer parte do imenso, não tenho como evitar. Estou perdido. O meu fim começou no exacto momento em que o perfume das almas invadiu o meu íntimo.
Não há quem me resgate agora. Agora sou livre, estou por todo o lado. Já não sou egoísta. Estou perdido. Eternamente perdido... E tão maravilhoso é este sentimento.